quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Irrisóriozinho


Havia um sentimento irrisóriozinho,
sorria às vezes, mas quase sempre não,
gostava da sensação de nostalgia acumulada,
enquanto isso não olhava ao seu redor.

Às vezes se encolhia ao ponto de sumir, sumir…
noutras se esquecia e preferia assim,
cruel era querer mudar sem mudar em nada,
desnecessário imaginar situação adversa, era complexa.

Se restringia ao seu mundinho egoísta e só,
dissimulava euforia, traía-se sempre que podia,
nada lhe assustava e tampouco motivava,
jamais via problemas e não se sentia bem.

Não observava as coisas, assim como não era sempre visto,
e quando algo via não imputava sentido,
passava despercebido até mesmo aos normais,
e nunca esquecia: havia um sentimento irrisóriozinho.

Já não há.


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Na Guerra ou Tanto Faz

O certo é que não posso deixar de chorar e tampouco parar de sorrir, intervir seria atrapalhar a (semi) perfeita equação dessa preciosa vida bem vivida ou bem curtida como cachaças em tonéis de carvalhos estocados em empoeiradas bodegas.

Sem incômodo posso retirar-me de cena e, apesar de apelar contra a pena imposta pelos comedidos atos, o fato é que me sinto grato ao me lembrar dos olhos quase fechados no estampar do sorriso no rosto. Conforto!

Assim, na face oposta ou na contraproposta, na réplica cor cinza e mal acabada ou na tréplica concisa e mal elaborada, perco-me sóbrio no pesar sombrio de dias alhures; de dias em que a lua não se insinuava ao crepúsculo do cerrado ou das veredas e as estrelas se envergonhavam na aurora boreal.

Confesso em certo tom de blasfêmia simulada que as rezas, as súplicas e as preces, bem como todas as velas acesas a Santo Expedito ou a algum outro santo em que pouco acredito, em nada valeram senão pelo utópico devaneio defasado de ter-me em bem estar interior.

Acontece que pular de cabeça quente em uma vida confusa nada mais é do que, em vão, tentar lavar a alma na correnteza nervosa das incertezas humanas e nas indelicadezas profanas que enganam, por si só, todo e qualquer ser.

Enfim, no amor ou no ódio, na guerra ou tanto faz, nas videiras do norte da Espanha e no ar rarefeito de La Paz, agora e também outrora, antes, durante e após qualquer hora, o certo é que e um monge, um padre, um pastor ou qualquer ator, perceberão o que eu nunca, nem mesmo nos sonhos mais confusos, tentei esconder: a saudade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sentimental Sindicalista



Às vezes aquela peça teatral mal montada ou improvisada parecia um sodalício composto apenas pelos dois, como se possível fosse; parecia um entusiasmo de fogo de palha, semelhante a um breve e empolgante comercial de cigarros que dura mais ou menos trinta segundos ou a um salto de paraquedas amador.

Vivera ele naquele lapso em um solilóquio incansável e ineficaz, agindo como um sindicalista rouco ou sem voz a agitar os braços, bandeiras, barbas e cabelos e sempre a reivindicar: mais amor, aumento da dedicação e redução da saudade; quase lhe implorava atenção ou algo na mesma necessidade e no mesmo patamar

Ela, da sua intocável inércia sentimental apenas respondia ladina e dissimulada: “__ Implorar, meu querido, somente a Deus”. Não lhe pronunciava outra oração sequer, fazendo-o sentir-se ignóbil. Nenhuma palavra lhe dizia, mesmo tendo sã consciência de que determinadas palavras podem acalmar determinados espíritos, ainda que não se demonstre a veracidade daquelas ou a agitação desses.

Desconsiderava o fato de que certas expressões sequer possuem efeito ou reação e, tal como um peditório, tal como um maçante teimoso, perguntava-se: “__ Onde achar remédio para as mesquinharias pingadas na rotina como soros que incham a tolerância e curam o entusiasmo inaugural dos casais?”

Ele, negando assemelhar-se a um misantropo, injuriava conjeturando que era como grão que em um moinho triturava-se sem que ninguém se preocupasse em saber se resistia à mó ou se se pulverizava depressa.

A ele restou a sensação de que aquela peça amorosa teria sido a soma de todos os sentimentos possíveis, todos os desejos imagináveis, todos as dores, dissabores, odores e amores do mundo; a ela apenas a definição de que, quando exagerando, teria sido uma relação chinfrim.

Ao fim, tal como um boçal enovelava-se proferindo ultrajantes dizeres e repetia aos ventos e aos mares, às cordilheiras e montanhas, repelindo o último resquício de insensatez, que certas palavras se acanalham desnecessariamente.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Do que precisa o Galo?


Do que precisa um time? Do que precisa o Atlético Mineiro?
O Atlético tem a massa fanática e incansável, cantadora e sonhadora. Preta e branca, sempre presente. Tem Galoucura, tem Netgalo, dentre outras.
O Galo tem milhares de Josés, Antônios, Marias e Joaquinas. Tem Thiagão, Thiaginho, e vários tons de Thiago. Tem Daniel que não fica calado. Tem Serginho e João Filho, filha, irmão, sobrinho e pai. Tem Francklin, tem Milena, Alena e Renato Pena. Tem Allison e Igor. Tem o que vos escreve e meu filho.
Nunca teve meu pai, mas ele eu comparo com Tostão, tinha que ser assim.
Tem minha mãe. Tem Cicarelli, tem metade do Skank e Wilson Sideral. Temos Milton Neves. Tinha Roberto Drummond. Temos a massa (não o biscoito fino e amanteigado). Temos a bandeira de duas cores básicas. Temos glória. Temos grito de “Galôôô” até as 3 da manhã após jogo no Mineirão.
Somos massa em BH, Contagem e Betim. Massa somos na Serra do Cipó, Conceição e Itambé do Mato Dentro, Milho Verde, Serro e Diamantina. Somos massa histórica em Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Tiradentes e São João. Massa no Circuito das Águas e no Circuito do Ouro.
Somos massa em Araxá, Uberlândia, Campos Altos e Uberaba. Somos Galo (leia-se, massa) em Ipatinga, Timóteo e Coronel Fabriciano. Somos Galo em Governador Valadares, Caratinga e Manhuaçu. Somos massa em Juiz de Fora (lá, os cariocas tentaram dominar). Somos massa em Teófilo Otoni e somos massa em Nova Era, João Monlevade e Roças Novas. Todas as roças, fazendas, chácaras e sítios, somos massa.
Somos massa nas cachoeiras de Minas, nas praias que não temos e nos bares que bebemos.
Temos o galo nos Estados Unidos, na Europa e Japão.
Mas, o que falta ao Atlético? O que falta à massa que somos?
Faltam nomes?
Faltam craques?
Faltam estrelas. Sim! Repito, faltam estrelas. Não aquelas estrelas que colocamos em cima do escudo, no peito orgulhoso. Faltam-nos as estrelas de outrora.
Faltam-nos Dario, Humberto Ramos. Faltam-nos Laci, Tião (Romeu) e Mussula. Ahn, se Mussula não fosse Mussula Tostão teria marcado naquele 2 X 1 que fizemos no Brasil, em 03/09/69. (Tudo bem, o galo usou camisa vermelha naquele jogo, mas por baixo os jogadores tinham a alvinegra).
Faltam-nos Tafarel, Renato e João-Leite (Tafarel era santo? João Leite era de borracha?).
Faltam-nos Éder, Luizinho. Faltam-nos Nelinho e Palhinha.
Falta-nos um técnico-líder como Yustrich. Falta-nos um técnico-gênio, simples e tranqüilo como Telê. Falta-nos Cerezo coração do mundo, coração de todos. Falta-nos Reinaldo e 28 gols em 18 jogos no brasileiro de 1978, sua meia-bicicleta e a demonstração de que pode fazer um homem, ainda que caindo ao chão.
Faltam-nos Ângelo e Ziza, incansáveis. Faltam-nos Marcelo e Paulo Isidoro. Falta-nos o capitão Oldair.
Faltam-nos presidentes como Elias Kalil. Faltam-nos diretores de futebol como Nery Campos.
Aonde estão todos eles? Onde se encontram que não nos deixam encontrá-los? Por onde andam, ou por onde jogam esses craques, essas estrelas? Esses heróis?
Eu digo: andam escondidos na ganância de nossos dirigentes, terríveis cartolas. Andam perdidos pela falta de apoio às categorias de base e à meninada. Aquele apoio que o Rei Reinaldo recebeu quando aos 16 anos despontou no Galo.
Precisamos (sim, precisamos, nós, a massa, os Josés e Marias atleticanos, o Galo) é de pessoas sérias na frente desse time, que, como diria o cronista, chega a se confundir com religião.
A massa torce contra o vento, mas nossos atuais dirigentes têm interesse diferente da massa e não podem fazer parte do Glorioso Galo das Minas Gerias.

sexta-feira, 27 de março de 2009

E o amanhã?


E se começarmos a perceber que o velho rock ´n roll já não faz mais o sangue parecer apimentado em nossas veias? E se qualquer dia desses marcar 150 km/h no ponteiro do carro não for mais motivo desencadeador de adrenalina? E se por qualquer razão aparentemente desconhecida o sonho de pular de pára-quedas, a vontade de percorrer o Caminho de Santiago de Compostela ou o desejo de mergulhar com tubarões parecerem-nos coisas infantis?

O que fazer? O que pensar?

Estaremos velhos? Cansados? Acharemo-nos enjoados de todas essas aventuras e estaremos nos preparando para o grisalho do cabelo, o crescer da barriga, o cair dos seios e para ouvir somente músicas chatas e não mais Secos & Molhados, Mutantes ou Rolling Stones?

Será que passaremos a procurar as praias com os mares mais calmos ou com piscinas naturais? Talvez uma viagem para um hotel fazenda! Passaremos a procurar os restaurantes com as comidas mais leves e sucos de abacaxi com hortelã? Será que procuraremos lugares que tenham playground para nossos pequenos e ar condicionado central?

E se o programa de domingo à tarde passasse a ser caminhar devagar na pracinha, comer pipoca (com pouco sal) vendo o sol se pôr atrás da igreja? E se nossos carros passassem a ter espaçosos porta-malas de 560 litros e nossas roupas menos estampas, menos bolsos e talvez gola pólo?

Ficaríamos sem usar allstar, bermudão camuflado e camisa de banda? Sem boné, pulseiras e cordões de hippies? Ficaríamos sem ouvir o som no talo, sem tomar banho gelado e sem fazer sexo selvagem? Não mais passaríamos as noites em claro regados a bebedeiras e alguns cigarros? Cortaríamos o cabelo, apararíamos a barba e cobriríamos as tatuagens? O que faríamos com os brincos?

O que diríamos a nós mesmos? É o amanhã que já vem chegando e se instalando no presente, de repente?

O amanhã será nostálgico, será pacato; ou será como o hoje: perfeito.

quarta-feira, 18 de março de 2009

O Barco




Paulatinamente os caracteres do nome daquela mulher tornam-se vagos na sua memória; registros insistentes assemelhados a marcas a ferro e fogo no couro animal, a talhas marcadas na madeira ou a pinturas rupestres vagarosamente saem de cena.

Esfumaçam-se e dissipam-se com o vento, carregados com a nostalgia sufocante; sufoco idêntico aos minutos que antecedem a defesa da tese de graduação ou como àqueles que sucedem as manobras que evitaram o naufrágio no alto mar do sul da Bahia.

Ainda possuem aquelas letras a capacidade, sem cerimônia ou bons modos, sem receio ou timidez, de atordoá-lo na hora de dormir e de desconcentrá-lo ao pronunciar em público; cora-se perante estranhos como uma confissão inesperada da saudade que ainda mantém (quase) intacta onde quer que se encontre seu coração: consigo ou partido sem rumo, sem direção, sem bússola ou carta náutica.

Não luta contra o medo e tampouco contra a saudade; sem render-se se leva ou se deixa levar pela correnteza de bons momentos e inúmeras surpresas que a vida lhe reserva. Sem colete salva-vidas ou bote inflável apenas cuida de si, na certeza de que um barco esquecido e solitário, dependendo da praia e da paisagem, pode se tornar belo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Aqui estamos...

Vontade de sumir? Ir para Indonésia, Patagônia, Everest ou algum lugar por demais distante da sua cidade? Quem sabe se esconder no lado escuro da Lua, onde nem de luneta pode-se ser visto?

Às vezes dá essa vontade; vontade de não falar com ninguém, de não ver e nem ouvir ninguém, nem mesmo a moça do tempo do Jornal das oito. Nem mesmo ela...

É, mas o mundo não pára, o relógio não conta as horas mais lentamente e nem o vizinho abaixa o som com aquela música horrível que escuta. Ninguém se comove com sua fadiga, não se emociona com seus problemas e tampouco lhe perguntam com sinceridade se “está tudo bem?”.

A vida ficou como o amargo do limão no lugar do doce da manga? Ficou como o calor de 45 graus no lugar da suave brisa litorânea? Ficou como o desconforto do banco de pedra no lugar do sofá piano essenfelder gran luxo de quase três metros?

Normal: presenciar desgostos, engolir sapos e ter que matar um leão por dia fazem parte da vida. Aqui estamos...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Amor de Vendedor de Livros


Veio forte, rasgando. Rasgava-lhe de saudade no passar dos dias. Saudade de forma fracionada. Pareceria ser deliciosa; a coisa mais intensa que já sentira na vida. Com seu jeito hipérbole de ver tudo e de viver os sentimentos. Pensara ser amor. Aquele amor que já não imaginara mais encontrar e nem tampouco existir.

Sim, tinham uma boa química, uma boa sintonia. Mas química ele vira no colégio e sintonia é para orquestra musical, banda de música. Assim pensava: tinham que ter amor; e isso não tiveram e nem tentaram ter. Nem tentaram pela simples explicação de que já imaginavam estar amando. Já? Tão rápido! Imaginavam…

Toda aquela fantasia levada a cabo de suposições, criada do absurdo devaneio de que um dia lhe bateria à porta o tal do amor. O tal do amor.

Tal como um inconveniente vendedor daquelas enciclopédias de psicologia ou plantas medicinais que compramos por empolgação, no entusiasmo, e que deixamos guardada em alguma estante, empoeirando, sem uso e quando não mais as queremos as damos a alguém, quase que implorando para um ser aceitá-las. Então, depois de algum tempo, quando algum outro vendedor de livros com uma bela gravata, sorriso cativante e boa fala à nossa porta bater, novamente cometermos a impensada aquisição. Tal como as paixões.

Com eles aconteceu assim: impensadamente, inesperadamente; surpreendendo-lhes com todos aqueles apertos no peito, surtos de saudade e momentos em que mais se parecia em transe, fora de si. Amor de vendedor de livros: empolgante e fácil de esquecer.

Toda aquela fantasia de nada servira? Fora uma vã imaginação? Claro que não! Fora divertido tal qual um sorvete em um quente dia de verão; refrescante, porém com o fim inevitável. Empolgante e ao findar-se, normal. Cotidiano, com ligações reduzidas a singelos "alôs", conversas impacientes e promessas (nem sempre cumpridas) de ligar algum outro dia. Anunciado como o fim de uma etapa ou de um período. Semelhante ao tempo de uma gestação.

Faltou-lhes algo. Alguma coisa que ambos não podiam nem tentaram explicar, sequer anos depois, mesmo porque não sabiam o que era, e não se deram ao trabalho de solucionar.

Algo nela o perturbava; algo nele a irritava. Perturbação e irritação que os conduziram a um fim trágico. Não pelo fim em si mesmo, mas pela constatação de que estavam demasiadamente corretos quanto ao que não sentiam; quanto ao que nunca sentiram.

Final recheado de desculpas e coberto com desconfianças. Repleto de medo e conformismo espalhados numa fôrma banal em forma de infantilidade e egoísmo.

Final anunciado quando o espaço entre um encontro e outro se reduzia a meras expectativas de sexo jovial e noites de prazer conduzidas pela embriaguez e insensatez de garrafas de vinhos, seguidas por manhãs em que as manhas se afloravam e se apresentava um dispensável jogo de sedução no qual pernas se enroscavam, bocas não se falavam e corpos se encontravam. Bocas com hálito noturno/matutino que não se impediam de saciar as vontades que tinham. Vontades nutridas pela ausência consentida. Às vezes conveniente e até deliciosa.

Veio forte, e assim como veio, foi-se. Aliviando tensões criadas pela própria tensão e quebrando o pacto de ficarem juntos para sempre. Pacto previamente estabelecido no imaginário delirante de ambos, porém nunca dito ao outro. Pacto tácito combinado de forma egoísta. Talvez pelo medo de ser verdadeiro ou pela realidade de nunca ser; talvez pelo medo de não dar certo ou simplesmente pelo medo de sentir medo.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Variações sobre o mesmo tema


Sinto forte o nó na garganta,
quando você se despede,
quando o último beijo é o último por muitos dias,
e quando por muitos dias só te vejo de olhos fechados.

Sinto forte o aperto no peito,
quando começo a necear com a sua ausência,
vacilando entre lucidez e um certo estado de irreflexão,
e quando fecho os olhos para não ver o vazio ao meu lado.

Pensamento paralisado pelo fato de louquejar sutilmente,
pela lembrança nostálgica que aos poucos torna-me ébrio,
que disfarça um receio que logo se extingui,
expondo a fictícia calma que por muito se perdura.