sexta-feira, 27 de março de 2009

E o amanhã?


E se começarmos a perceber que o velho rock ´n roll já não faz mais o sangue parecer apimentado em nossas veias? E se qualquer dia desses marcar 150 km/h no ponteiro do carro não for mais motivo desencadeador de adrenalina? E se por qualquer razão aparentemente desconhecida o sonho de pular de pára-quedas, a vontade de percorrer o Caminho de Santiago de Compostela ou o desejo de mergulhar com tubarões parecerem-nos coisas infantis?

O que fazer? O que pensar?

Estaremos velhos? Cansados? Acharemo-nos enjoados de todas essas aventuras e estaremos nos preparando para o grisalho do cabelo, o crescer da barriga, o cair dos seios e para ouvir somente músicas chatas e não mais Secos & Molhados, Mutantes ou Rolling Stones?

Será que passaremos a procurar as praias com os mares mais calmos ou com piscinas naturais? Talvez uma viagem para um hotel fazenda! Passaremos a procurar os restaurantes com as comidas mais leves e sucos de abacaxi com hortelã? Será que procuraremos lugares que tenham playground para nossos pequenos e ar condicionado central?

E se o programa de domingo à tarde passasse a ser caminhar devagar na pracinha, comer pipoca (com pouco sal) vendo o sol se pôr atrás da igreja? E se nossos carros passassem a ter espaçosos porta-malas de 560 litros e nossas roupas menos estampas, menos bolsos e talvez gola pólo?

Ficaríamos sem usar allstar, bermudão camuflado e camisa de banda? Sem boné, pulseiras e cordões de hippies? Ficaríamos sem ouvir o som no talo, sem tomar banho gelado e sem fazer sexo selvagem? Não mais passaríamos as noites em claro regados a bebedeiras e alguns cigarros? Cortaríamos o cabelo, apararíamos a barba e cobriríamos as tatuagens? O que faríamos com os brincos?

O que diríamos a nós mesmos? É o amanhã que já vem chegando e se instalando no presente, de repente?

O amanhã será nostálgico, será pacato; ou será como o hoje: perfeito.

quarta-feira, 18 de março de 2009

O Barco




Paulatinamente os caracteres do nome daquela mulher tornam-se vagos na sua memória; registros insistentes assemelhados a marcas a ferro e fogo no couro animal, a talhas marcadas na madeira ou a pinturas rupestres vagarosamente saem de cena.

Esfumaçam-se e dissipam-se com o vento, carregados com a nostalgia sufocante; sufoco idêntico aos minutos que antecedem a defesa da tese de graduação ou como àqueles que sucedem as manobras que evitaram o naufrágio no alto mar do sul da Bahia.

Ainda possuem aquelas letras a capacidade, sem cerimônia ou bons modos, sem receio ou timidez, de atordoá-lo na hora de dormir e de desconcentrá-lo ao pronunciar em público; cora-se perante estranhos como uma confissão inesperada da saudade que ainda mantém (quase) intacta onde quer que se encontre seu coração: consigo ou partido sem rumo, sem direção, sem bússola ou carta náutica.

Não luta contra o medo e tampouco contra a saudade; sem render-se se leva ou se deixa levar pela correnteza de bons momentos e inúmeras surpresas que a vida lhe reserva. Sem colete salva-vidas ou bote inflável apenas cuida de si, na certeza de que um barco esquecido e solitário, dependendo da praia e da paisagem, pode se tornar belo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Aqui estamos...

Vontade de sumir? Ir para Indonésia, Patagônia, Everest ou algum lugar por demais distante da sua cidade? Quem sabe se esconder no lado escuro da Lua, onde nem de luneta pode-se ser visto?

Às vezes dá essa vontade; vontade de não falar com ninguém, de não ver e nem ouvir ninguém, nem mesmo a moça do tempo do Jornal das oito. Nem mesmo ela...

É, mas o mundo não pára, o relógio não conta as horas mais lentamente e nem o vizinho abaixa o som com aquela música horrível que escuta. Ninguém se comove com sua fadiga, não se emociona com seus problemas e tampouco lhe perguntam com sinceridade se “está tudo bem?”.

A vida ficou como o amargo do limão no lugar do doce da manga? Ficou como o calor de 45 graus no lugar da suave brisa litorânea? Ficou como o desconforto do banco de pedra no lugar do sofá piano essenfelder gran luxo de quase três metros?

Normal: presenciar desgostos, engolir sapos e ter que matar um leão por dia fazem parte da vida. Aqui estamos...