quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Se Eu Cantasse (ou Aula de Canto)


Os fogos de artifício não me incomodam tanto. O estridente latido do cachorro do vizinho já não é incômodo algum. Carros de som fazendo propaganda na rua em pleno domingo de manhã. Música alta tocando em aniversário de criança quando quero conversar baixo. Em nada me atrapalham. Fúteis conversas animadas de senhoras sem ocupação, decidindo qual o melhor tecido pra se fazer uma passadeira nova, qual a cor que mais combina com a parede recém pintada em algum tom pastel e onde se comprar o material, quase não me incomodam. Nada se compara à minha voz desafinada quando tento cantar em sol maior ou mi menor. Enfim, em qualquer tom.

Não que eu queira ser um grande popstar de arrastar multidões, de encher ginásio esportivo e de levar garotas ao delírio. Essa pretensão eu nunca tive. Só queria mesmo cantar mais ou menos, no mínimo não desafinar tanto, não variar tanto as notas dentro de um simples dó sustenido. Até no banheiro, enquanto ensabôo meus cabelos, desafino tentando alcançar um ré qualquer, um misero rézinho sem importância alguma.

Deixa...deixa... Diriam-me aqueles que já nasceram sabendo cantar. Isso não é o mais importante. Claro que é. Lógico que é! Como não é o mais importante? Quando estou com ela isso é importante pra mim.

Acho que vou fazer aula de canto. Pra lhe sussurrar meus segredos, meus medos e desejos. Pra dizer minhas vontades ao seu ouvido, arrepiando os pêlos do pescoço. De ambos os pescoços. Enquanto ela tentasse dormir, de bruços ou de costas pra mim, cantaria baixinho nossas músicas preferidas, ainda que no meu inglês colegial ou no meu português comum. Atrapalharia nosso sono. Iniciaríamos nosso sonho. Terminaríamos sabe-se lá aonde. Se eu cantasse
.